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Tamanho único serve pra ninguém | Fintechs B2C


Eu nem sabia que o primeiro esboço desse artigo seria um esboço para esse artigo. Sobre o tema, escrevi despretensiosamente no Linkedin, como costumo fazer quando algo me aborrece, ou tenho algum motivo pra comemorar. Então, cá estou para comentar com você sobre o momento que estamos vivendo das fintechs (e aplicativos) no Brasil. Não me leve a mal, e também recomendo não me levar muito à sério, já que escrevo sob minha ótica própria e minha única e exclusiva opinião (a qual, como eu sempre digo, que pode mudar a qualquer novo dado).


Estou cansada.


A fadiga vem, principalmente, do excesso de informações e carga mental que os aplicativos andam me trazendo. Caro leitor ou leitora, pra quem não me conhece, eu trabalho desde 2010 criando produtos - sejam eles físicos ou digitais. E, pra quem me conhece ainda menos, os primeiros produtos físicos que criei eram… roupas. E é justamente do universo da moda que eu trago uma das constatações que perdura durante toda minha carreira: "one size fits none", ou, em português "tamanho único serve pra ninguém". É muito fácil de entender a analogia se pensarmos numa camiseta, já que as chances baixíssimas de uma camiseta tamanho único servir super bem para muita gente. Ouso ainda dizer que tamanho único não serve. Ponto.


A analogia que faço com produtos digitais é a mesma, porém, um pouco mais chocante, já que estamos na era da IA e da personalização. Veja, antigamente eu até tolerava um aplicativo com uma ou outra funcionalidade que não "me servia", eu até… fiz aplicativos com uma ou outra funcionalidades que não serviam pra todo mundo. Dadas as opções escassas do começo da era mobile, não via espaço para muitas exigências, já que a oferta era baixa e ainda estávamos entendendo direito o que é esse 'bicho' chamado aplicativo. Só que, corta pra 2023, estamos… cansadas. Cansadas de apps se transformando em tudo. Cansada de tudo virando fintech. Eu não quero que minha agência de turismo esteja dentro do meu banco. Não quero usar o cartão de crédito do ecommerce onde compro panela. Não quero ficar recebendo anúncio de empréstimo dentro do site da companhia aérea…


Em 2023, a esmagadora maioria das pessoas que tem posse de um celular já sabe o que é um aplicativo. E já sabe o passo a passo pra encontrar, instalar e abrir um aplicativo pela primeira vez. Já sabe o que esperar de certos comportamentos e de padrões de cliques, de interações, de toques. E, acima de tudo, estamos cada vez mais exigentes, afinal, para ocupar o espaço nobre dos meus 128gb de memória, tem que valer a pena, certo?


Os exemplos que eu dei aí em cima são poucos perto do que vem acontecendo debaixo dos nossos olhos - ou melhor, no toque dos nossos dedos. Pouquíssimas empresas são donas dos apps que você tem na tela principal do seu celular e, dado esse monopólio tecnológico, nada mais confortável pra elas do que tentarem ficar tentando aumentar sua receita, oferecendo 'tudo em um'. Como eu falei, é o banco vendendo liquidificador. Só que, pensa comigo, é altamente improvável que você, que está precisando fazer um Pix na correria, queira interromper esse processo para comprar um liquidificador. E essa é minha grande queixa.

Talvez você não perceba, mas está tolerando muito mais do que deveria. Talvez o pequeno aborrecimento de ter que fechar um banner esteja. Acontecendo. Toda. Santa. Vez. Quando. Você. Abre. o App. Do. Seu. Banco. Talvez - só talvez - isso seja de muito mais interesse do seu banco do que seu. E aí, cadê a IA preditiva incrível que sabe exatamente o momento da vida de uma pessoa quando o liquidificador dela quebrou e entra como herói mágico para apresentar o melhor liquidificador, no melhor preço, com o frete mais rápido e garantia ideal para você, uma mulher de 34 anos, que mora em Pinheiros, que trabalha 10h por dia e só quer fazer seu suco verde em paz? Pois é, ela não existe. E te garanto, que, quando existir, o seu banco não será o lugar onde ela vai despertar sua atenção de forma positiva. Porque?


Porque one size fits none.


Penso, inclusive, que seu banco ainda tem várias falhas, e me pergunto: porque eles não as estão corrigindo, antes de partir pra próxima-grande-iniciativa-que-não-tem-nada-a-ver-com-um-banco?


Quando essa experiência ultra personalizada realmente existir, ela será dentro de um app focado e especializado nisso, que conhece "venda de liquidificador" mais e melhor do que ninguém, e que vai dedicar anos, dinheiro e tempo pra chegar lá.


E esse é o movimento o qual eu acredito, brigo por, e tento criar é o dos aplicativos específicos, simples, que se propõem, e fazem, uma coisa maravilhosamente bem. Assim como você faz com suas roupas, vai ficar cada vez mais raro você baixar e gostar dos apps genéricos tamanho único.


Acredito nos aplicativos que respeitam a carga mental, cognitiva, o foco e os dados das pessoas, de forma a criarem experiências de conveniência tão magníficas que até - quem sabe - as pessoas aceitem pagar por elas. Notion, Airbnb, Clue, Duolingo são alguns dos meus preferidos, pois fica perceptível a atenção aos detalhes, a UI pensada e a experiência redonda em torno de resolver um só problema, sem querer me empurrar coisa, me entregando experiência, design, técnica, performance. E aí, qual será o próximo?


Ana Zucato, CEO e co-fundadora Noh Colunista www.noh.com.br

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