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Investimentos Globais 2022


Quando pensamos no ecossistema de inovação e tecnologia, o que mais temos em 2022 visto são as demissões em massa, tombos de grandes fundos globais e esforços para preservar caixa — das pequenas startups às big techs.


Na obra "José", o escritor Carlos Drummond de Andrade sistematiza todas as angústias de seu tempo, e há quem diga que é possível fazer certa analogia com o cenário atual:


E agora, José?

A festa acabou (acabou “euforia” de rodadas, aportes, IPOs?)

a luz apagou (seria o fim do "hype" do segmento?)

o povo sumiu (investidores “migraram” para outros ativos e estão cada vez mais exigentes)

a noite esfriou (o que fazer em cenário de aversão a risco?)



Mas a "festa" não acabou, José!

Por aqui vemos o "copo meio cheio". E por quê? A partir de dados, trazemos uma reflexão sobre os atuais desafios, mas também sobre a evolução e as oportunidades em uma perspectiva temporal: o que já aconteceu, o que está acontecendo e o que está por vir em relação ao ecossistema de inovação.



Contexto: sobre a "festa"


O ano de 2021 foi um ponto fora da curva para o ecossistema de startups a nível global. Vimos empresas em crescimento exponencial, fartas rodadas de investimento e uma onda de IPOs e SPACs — sociedade constituída a fim de levantar capital por meio de IPO, para adquirir uma empresas existente — sem precedentes.


🟡 O que rolou nos bastidores: para muitos, até então, bastava investir em uma empresa privada de alto crescimento, que certamente ela logo se tornaria pública e traria um retorno médio de 50–100% em até dois anos. Como efeito, os valuations de late stage mais do que dobraram entre 2020 e 2021, segundo o Pitchbook. Go deeper.


Mas parece que tudo o que é bom uma hora acaba. Depois da "festa", a realidade se tornou indigesta para o ecossistema de startups. Mas por qual motivo?

  1. Cenário macroeconômico desfavorável. Temos juros e inflação em alta, somadas às expectativas de recessão a nível global. E o conflito no leste europeu, sem perspectivas de trégua, agrava esse cenário por mais tempo.

  2. Investidores reajustam suas teses. Há uma “corrida” para ativos mais seguros, como renda fixa e ações de value, em detrimento das empresas de crescimento.

  3. Capital mais caro e redução do valuation. Das big techs, empresas pré-IPO às pequenas startups: todas foram penalizadas com esse reajuste. Entre os impactos negativos, estão a redução do quadro de funcionários, o adiamento da abertura de capital, dentre outras iniciativas, a fim de priorizar sua rentabilidade e preservar caixa.


E agora, José? A “festa” acabou? Parece que não…


A seguir, apresentamos alguns dados para ilustrar essa realidade sob o ecossistema de inovação. Aqui, destacamos (novamente) que o referencial é o "ponto fora da curva", o ano de 2021.


Os investimentos globais em VC no 3º trimestre totalizaram US$ 81 bilhões, conforme dados mais recentes do Crunchbase. Isso representa uma queda de 33% (QoQ) quando comparado ao trimestre anterior e 53% (YoY) quando comparado ao Q3 de 2021.


Os níveis de investimento voltaram aos patamares observados em 2019 e 2020. Na comparação YTD, 2022 apresenta uma queda de 26% em relação a 2021 e um crescimento de 50% em relação a 2020, muito puxado pelo primeiro trimestre desse ano, que apresentou níveis de investimentos próximos a 2021.


Se olharmos por estágio, temos:

⚫ Late Stage (Series C+) continua sendo o mais impacto, com queda de de 40% QoQ e 63% (YoY);

⚫ Early Stage (Series A & B), teve queda de 25% QoQ e 39% YoY;

⚫ Seed & Angel, tiveram queda de 24% QoQ e 6% YoY.



O momento é de ajuste e indica crescimento ao longo do tempo. A seguir, também destacamos alguns avanços significativos de algumas métricas do ecossistema.


🟢 Fundos de VC nunca tiveram tanto capital. Na outra ponta, verifica-se que os principais fundos de VC a nível global têm capital disponível para investir, pois grande parte deles captaram entre 2020 e 2021, conforme dados da Preqin. Mas os investidores estão mais exigentes em termos de fundamentos e teses mais sólidas. Go deeper.


🟢 Crescimento das rodadas anjo. Na contramão dos demais, as rodadas anjo, pré-seed e seed registraram um salto de US$ 151 milhões em 2021 para US$ 282 milhões. No geral, as empresas em early-stage foram as únicas a registrarem um aumento dos aportes (mediana).


🟢 Ecossistema brasileiro capitalizado como jamais tivemos antes. Conforme dados da Jupter, há cerca de R$ 18 bilhões de capital disponível para investir em empreendedorismo inovador no Brasil (3X mais do que o foi visto no ano de 2020!). E as startups que estão em estágios iniciais (early stage) são as principais beneficiadas.


🟢 Temos quase 30 unicórnios para contar história. O Brasil está entre os 10 países com maior número de startups nessa categoria. Além disso, vimos grandes captações do ecossistema brasileiro: Neon (US$ 300 milhões); Creditas (US$ 260 milhões); Dock (US$ 110 milhões); Unico (US$ 100 milhões).


🟢 Democratização dos meios digitais. Impulsionada no contexto pandêmico, a digitalização se torna cada vez mais acessível para a população, e o avanço de novas tecnologias como o 5G e internet das coisas (IoT), por exemplo trazem consigo novos hábitos e demandas de consumo.


🟢 Venture capital lidera número de deals. Cerca de 30% dos investimentos são destinados para iniciativas de venture capital.


Conclusão: copo meio cheio

“O mercado é a história de ciclos e do comportamento humano, que é responsável por reações extremadas em ambas as direções.”

Seth Klarman, investidor bilionário americano


Vamos ponderar alguns elementos em nossa análise. Primeiro, temos como referência o ano de 2021, o tal “ponto fora da curva”. Segundo, o mercado é cíclico. Terceiro, separar o que é cíclico e o que é estrutural.


O cenário atual sustenta algumas preocupações quanto à sustentabilidade do crescimento do ecossistema de inovação no curto prazo. Entre elas, estão:


🟡 Persistência da pressão inflacionária. Implica em um aumento dos custos para as empresas e, consequentemente, na redução do lucros; do outro lado, se traduz na corrosão do poder de compra e redução do consumo. Tal movimento faz com que as empresas tenham maior consciencia de suas soluções que fundos invistam com cada vez maior critério de avaliação.


🟡 Investidores cada vez mais exigentes e seletivos. Fundos de venture capital e private equity ficaram cada vez mais criteriosos quanto ao destino dos investimentos. O que não necessariamente deve ser visto como negativo, dado que a seletividade faz com que negócios tenham cada vez mais qualidade de produto e fundação sólida.


🟡 Temor de recessão adiante. Na tentativa de conter a inflação, há sinais de que o aperto monetário repentino (isto é, o aumento dos juros) a nível global leve à redução do crescimento econômico. Em julho, foi divulgado que o PIB dos Estados Unidos encolheu por dois trimestres consecutivos. Ou seja: a maior economia do mundo entrou em recessão técnica. A pergunta que fica é até quando teremos esse cenário? O que pode ser feito nesse período?


🟡 Questões regulatórias. As decisões dentro do aparato jurídico e político podem alterar a dinâmica de funcionamento do ecossistema em meio às fragilidades do momento. Entretanto, também fazem com que seja possível trazer inovação para diferentes setores a partir de novas regulações ancoradas os avanços do cenário atual.


Apesar disso, a tendência estrutural se mantém. Empresas de tecnologia nunca foram uma parcela tão grande dos mercados de ações quanto hoje, e cada empresa bem sucedida do futuro será uma empresa de tecnologia.



➡️ Olhar em retrospectiva para os momentos difíceis e suas lições. Vivenciamos choque do petróleo, bolha da internet e crise do subprime antes do pandemônio causado pela Covid-19. Apesar dos enormes desafios gerados por cada uma delas, a trajetória aponta para novas oportunidades e exige uma capacidade das empresas de se adaptar para permanecer no jogo.


➡️ Pensar em uma perspectiva de longo prazo. A evolução do mercado de ações americano nos últimos anos é notável. Um ponto que nos chama a atenção é a mudança de "perfil" nos últimos 40 anos. No que se refere às empresas mais valiosas da bolsa, migrou de setores tradicionais (petrolíferas, bens de consumo e financeiro) para o predomínio de empresas de tecnologia — as famosas big techs. Isso já está se tornando realidade na América Latina também, com destaque para a ascensão do Mercado Libre e do Nubank.



Referências


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