De tempos em tempos, o mundo é impactado por inovações que revolucionam a maneira de fazer negócios e entregar valor para a sociedade.
A tecnologia de streaming aliada a um modelo de negócio inovador fez a Netflix desbancar a gigante Blockbuster e dominou o mercado do entretenimento. Em 2007, Steve Jobs lançou o iPhone e não só revolucionou o mercado com um novo hardware, mas também introduziu um novo conceito de fornecimento de serviços e geração de receitas via App Store. Com isso, tornou-se líder do mercado antes dominado por produtos da BlackBerry e outras empresas. [1]
Nos dias atuais, a tecnologia blockchain tem demonstrado um grande potencial revolucionar a economia, impactando a maneira como realizamos transações financeiras, estabelecemos relações comerciais, dentre outras aplicações. [2]
Blockchain: da origem do Bitcoin à Tokenização de Ativos
Em 2008, o whitepaper de Satoshi Nakamoto trouxe à tona o conceito da blockchain. O termo remete ao encadeamento entre blocos de dados criptografados, que associado aos chamados algoritmos de consenso (mecanismos usados para a criação de novos blocos de forma descentralizada) garante a imutabilidade dos dados registrados neste tipo de rede.
Por ser uma rede distribuída de dados que registra informações em blocos interconectados, a necessidade de um intermediário confiável é eliminada. Isso traz mais segurança, transparência e confiabilidade, e também garante a privacidade e a rastreabilidade das operações.
Junto ao conceito de blockchain, Nakamoto introduziu ao mercado a primeira criptomoeda (e dominante até os dias atuais): o Bitcoin. Mais do que um ativo digital, o Bitcoin abriu as portas para diversas outras criptomoedas (altcoins), possibilitando o amadurecimento das tecnologias e da própria lógica de uso das plataformas descentralizadas.
Em 2014, Vitalik Buterin fundou a plataforma Ethereum. Esse evento é um grande marco na história da tecnologia blockchain, pois essa plataforma executa os contratos inteligentes (smart contracts). O termo se refere a um conjunto de regras auto executáveis, com base no atendimento de condições previamente acordadas pelas partes envolvidas, que expandiu os horizontes de aplicação de soluções descentralizadas.
Essas tecnologias viabilizaram o desenvolvimento diversas aplicações, inclusive a tokenização de ativos. O termo se refere ao processo de representar ativos no formato digital (tokens), para que eles possam ser comercializados. Isso merece destaque, pois abre um leque de aplicações seguras e escaláveis para toda a economia.
O Impacto do Blockchain no Mundo Atual
Assim como o Pix e Open Finance, a tokenização de ativos por meio do uso da blockchain veio para ficar e abre um mar de possibilidades para diversos setores da economia.
No setor imobiliário, já existem iniciativas que permitem aos consumidores comprar ou alugar tokens de imóveis via plataforma conectada a uma rede blockchain. Além disso, pode oferecer crédito com garantia imobiliária, com todas as operações alinhadas com as devidas regulamentações. Assim, além de proporcionar mais segurança nas transações e informações, a blockchain pode democratizar o acesso a bens e investimentos de maior valor agregado.
A tecnologia blockchain também impactou o setor agropecuário, possibilitando que empresas rurais tokenizem as remessas de grãos (milho e soja, por exemplo) e usem sua produção para obter crédito ou realizar operações de compra e venda por outros produtos (barter). Outras aplicações incluem a garantia de qualidade de remessas tokenizadas de produtos agrícolas, a antecipação de recebíveis com base na tokenização de safras, e até mesmo o uso de tokens agrícolas para pagamentos cotidianos.
No setor financeiro, a blockchain pode ser utilizada para criar uma rede de pagamentos mais rápida e segura, enquanto a IA analisa as transações financeiras e detecta possíveis fraudes, o que aumenta a segurança do sistema, por exemplo.
O Brasil é referência a nível global na aplicação das tecnologias emergentes mencionadas. Entidades como o Banco Central (Bacen), a Fenasbac e a CVM estão liderando a pauta, promovendo laboratórios (Lift Lab) e desafios (Lift Challenge) que viabilizam aos diversos players do mercado testar e acelerar projetos de digitalização do dinheiro, além de dar início à construção de um arcabouço legislativo e regulamentar através de instrumentos como a sanção do Marco das Criptomoedas nº 14.478, a publicação da CVM 175 e CVM 40, e a resolução BCB nº 315 (Piloto do Real Digital).
Em suma, a adoção da blockchain e tecnologias correlatas está em rápido amadurecimento e promete gerar ainda mais impacto do que vimos até o momento. Assim como a Blockbuster e a Blackberry subestimaram os sinais da revolução em seus segmentos, as empresas que não avaliarem a adoção e o impacto destas tecnologias em seus negócios correm o risco de serem superadas por seus concorrentes e novos entrantes.
João Gianvecchio
Gerente de Inovação do banco BV
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