Nunca é sobre dinheiro, mas sempre é sobre dinheiro. Começo a primeira edição da minha coluna nos colocando no contexto sobre qual é a forma que enxergo fintech B2C. Afinal, o tema da minha coluna é esse, e eu suponho que você esteja esperando um monte de números, dados, gráficos, e articulações sobre o aspecto macroeconômico sobre esse segmento do mercado… Mas, dada a liberdade para escrever essa coluna que me foi dada pela Giu, do time da Snaq, vamos seguir um caminho diferente. Por isso, o contexto é importante.
Usarei esse espaço pra te levar numa jornada sobre como eu acredito que fintech é muito mais do que a soma de “fin” com “tech”, e como B2C é muito mais do que um termo frio que direciona a entrega de um serviço de um business para um consumer.
Primeiro, me apresento. Sou Ana, e trabalho com tecnologia e fintech B2C há 10 anos, mas vivo observando o movimento do dinheiro há 34 anos e 5 meses.
E, nessa simples frase, já exponho toda a minha visão: durante a vida toda você estará observando o movimento do seu dinheiro que, por sua vez, estará ao redor da sua vida toda.
Em outras palavras, o dinheiro é como o ar. Não deveríamos viver para respirar ar, mas sem ar não respiramos. Mais recentemente, eu fundei a fintech Noh, que é a primeira fintech nascida e criada social e compartilhável no nosso país.
Nasci em uma família privilegiada e minha mãe logo pôde parar de trabalhar para se dedicar a cuidar de mim, da Marina e do João, dos nossos cachorros e da casa. Meu pai é empreendedor e estava encarregado de prover para nós. Ali se instaura a dinâmica comum da família brasileira naquela época: o dinheiro entra pelas mãos de 1 e serve 5 (ou mais). Crescemos em meio a cédulas, moedas, cheques e tendo que ir no banco pra pagar boletos. Me lembro perfeitamente da época quando "fin" não era nada "tech", e o mais inovador que havia era o próprio caixa eletrônico, que imprimia dinheiro e cheques. Me lembro também da época pré-ecommerce, quando o pagamento era ao vivo e a cores.
Minha mãe, que não trabalhava mais fora, era a CFO da nossa casa. Ela controlava as finanças, os recibos, e usava até um software chamado Quicken. Eu cresci ouvindo o barulhinho de caixa registradora do Quicken apitar toda vez que ela registrava uma despesa, e mal sabia eu que essa viria a ser a maior fintech do mundo, a qual eu, coincidentemente, tive a honra de trabalhar anos depois (quando o nome já até havia mudado pra QuickBooks e era um dos produtos da Intuit que tinha acabado de entrar no Brasil em 2016) e onde conheci meu marido. O Quicken, naquela época, era a forma de digitalizar o controle financeiro de uma casa, já que o dinheiro ainda não era digital. Softwares como esse, além do seu app bancário, e seu cartão de crédito, vivem no que eu chamo de a primeira era de inovação das fintechs, que digitalizaram o dinheiro, o movimento do dinheiro, o controle de dinheiro, o gasto, o investimento, o empréstimo e muitas outras formas de viver.
Essa era só pôde ser construída através de muita infraestrutura de segurança, anti-fraude, padronizações de trocas de arquivos bancários, dados e - claro - dinheiro. Mas mais do que isso, só pôde ser construída graças às pessoas que estavam dispostas a usarem essas tecnologias. Os famosos "C"s, ou consumers, para quem essas tecnologias foram construídas. Como eu disse antes, existe uma quantidade básica de movimentos que um "C" pode fazer com seu dinheiro, tal qual gastar, guardar, multiplicar, emprestar, e a primeira era das fintechs digitalizou esses movimentos de forma que você consiga fazer qualquer coisa, em dois cliques, do sofá da sua sala.
Agora estamos entrando numa segunda era das fintechs. Já nos acostumamos a movimentar nosso dinheiro online, e 85% de nós, pessoas brasileiras, já estamos bancarizadas, tendo quase todas nossas necessidades básicas de movimentação de dinheiro atendidas por bancos incumbentes ou fintechs. Mas a inovação não para aí, pois, como eu disse lá no começo, sempre é sobre dinheiro. Dinheiro, como ar, te provê a vida e as experiências que você preza por, sua saúde e transporte, a educação, os sonhos. Por isso, nunca é sobre dinheiro, mas sim sobre as experiências, a vida, a saúde, o transporte, a educação, os sonhos. E essa segunda era das fintechs é extremamente focada em Cs, criando experiências para que o movimento do dinheiro espelhe sua vida.
Não é mais sobre investir, é sobre Caixinhas que somam sonhos. Não é mais sobre pagar, é sobre fazer um Noh pra pagar junto com quem você ama. Não é sobre trocar dinheiro no câmbio, é sobre esperar seu voo na sala Nomad Vip. Não é sobre pedir cartão pra sua mãe, mas sim virar um uzer da Z1. As novas fintechs são criadas praticamente pelos consumidores para que vivam suas vidas e que a tecnologia acomode seu dinheiro conforme sua história.
O que me deixa mais apaixonada sobre fintechs B2C é acompanhar a forma como são, cada vez menos fin e cada vez mais vida dos clientes Cs. Como são cada vez menos números frios e divisões matemáticas, e cada vez mais experiências compartilhadas e conquistas que merecem ser celebradas. Cada vez menos sobre o fim, e mais sobre o meio. Quem entender isso irá ganhar esse jogo.
Afinal, nunca é sobre o dinheiro, mas… sempre é sobre o dinheiro.
Ana Zucato, CEO e co-fundadora Noh Colunista
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